domingo, 22 de novembro de 2009

NFC Cap. 1


Capítulo 1- PORQUE PRECISAMOS REPENSAR AS NOSSAS FÁBRICAS DE CALÇADOS: ALGUNS FUNDAMENTOS QUE SUBSIDIAM ESTA PROPOSTA


Hoje, quando nos propomos lançar idéias cujos propósitos são os de realinhar conceitos, princípios e fundamentos sobre temas, sejam eles de natureza cultural, social, tecnológica ou econômica, há que se ter a atenção voltada para o fenômeno dos “ ventos da mudança”, cuja influência é a de gerar o envelhecimento prematuro do que está sendo pensado como inédito.

Ao estarmos sujeitos a esta condição, os tempos atuais são extremamente perversos aos que se propõe contribuir com algo de novo, pois estas influências nos colocam na condição de cometer equívocos sem que o percebamos e expõe-nos facilmente à situações embaraçosas, ao falarmos de algo que sem sabermos, “ já era”.



  1. Estas considerações tem o propósito de lembrar que as mudanças, tão decantadas na bibliografia, realmente estão acontecendo e o que é mais dramático, a uma velocidade que muitas vezes ultrapassa a nossa capacidade de percebê-las. Assim, não é nada repetitivo lembrar a necessidade vital de estarmos preparados para recebê-las, ou mais ainda gerar competências que nos capacitem a nos antecipar às mesmas.
    Ao iniciarmos o desenvolvimento desta proposta-conceito identificada por “A nova fábrica de calçados” é importante que a mesma esteja perfeitamente alinhada e também contextualizada, com os ambientes de negócios atuais e fundamentalmente com os que se desenham para o futuro.
    Uma primeira e importante consideração a ser feita é aquela que aborda a integração econômica mundial. O mundo globalizado que hoje vivenciamos é o resultado de profundas mudanças econômicas e principalmente políticas, implementadas no final do século XX, quando as fronteiras geográficas das nações passaram ter um papel meramente indicativo de resguardo ou preservação de questões políticas locais e inerentes aos países. Ideologias foram deixadas de lado e substituídas por fluxos econômicos, movimentando produtos e serviços, cujos conteúdos básicos são novas tecnologias e novos conhecimentos.
    O fenômeno das mudanças não parou aqui. As pessoas e todos os envolvidos começaram a questionar estes chamados fluxos econômicos de tecnologias e conhecimentos passando a identificá-los, a partir de um substrato que lhes são inerentes, a Informação. A partir destas considerações e modo de pensar mais à frente, a mudança aconteceu, de modo que as trocas migraram da condição original de insumos tangíveis para os de insumos intangíveis, os fluxos de informações. Produtos e serviços podem ser substituídos perfeitamente por informações. Neste novo estágio da evolução da globalização, os intermediários de negócios cedem lugar para o consumidor. A informação não necessita de intermediação para chegar aos consumidores. A Tecnologia da Informação assume o papel de difusor da informação.
    À medida que os consumidores vão se multiplicando como beneficiários desta nova forma de relacionamento, comumente chamada de conectividade, verifica-se a necessidade da criação de uma grande rede facilitadora do “transporte” das informações a qualquer parte do mundo, a qualquer momento: esta grande rede passa a ser identificada pela sigla WWW - Wide World Web – por nós chamada de Internet.
    Esta rede fundamenta e consagra o que podemos chamar de Império do Consumidor.
    Os dois fatores: a globalização dos negócios e a rede mundial de informações à serviço do Império do Consumidor deram origem a Nova Economia. É neste contexto que surge a proposta de Nova Fábrica de Calçados - NFC.


  2. A Nova Economia ao abrir os mercados mundiais para todos, oferecendo um incontável número de oportunidades de negócios e a oferta de uma inimaginável agenda de clientes ávidos pelo Valor de produtos e serviços, mostra, paralelamente a estes benefícios, o seu lado perverso, identificado pela sua capacidade de rápida Comoditização – processo de tornar novos produtos, serviços e conhecimentos como coisas comuns, de baixo valor - como resultante desta integração econômica e principalmente da conectividade propiciada pelo rápido fluxo de informações. Este fenômeno assume as mais diversas e surpreendentes formas de manifestação, fazendo o Valor do que é ofertado, despencar rapidamente ou até instantaneamente de patamares os mais elevados, para posições inferiores de atratividade frente aos consumidores e o mercado.
    Apesar deste fenômeno, que mostra complexidade do mundo dos negócios de hoje, continuam sendo os mercados e os consumidores, tanto atuais como potenciais, os mais poderosos agentes da tomada de decisão do que se deseja adquirir. Ao olharmos para a atividade da fabricação, oferta e comercialização de calçados, verificamos que estes continuam e permanecerão soberanos na sua prerrogativa de decidir, pelos calçados que lhes convém adquirir e qual a sua origem.


  3. Igualmente são aqueles os que têm a poder e a condição de identificar o quanto os seus fornecedores estão exercendo a condição Valorar os calçados, e no caso da sua não realização, sem nenhum preconceito ou destemor, migrarão para um fornecedor mais competente e eficaz em lhes fornecer este atributo. Esta situação identifica que o Valor migrou de um fornecedor para outro.
    Em uma economia global e conectada, o fenômeno da Migração do Valor passa a ter uma maior abrangência, deixando de focar empresas individualmente , para abranger setores econômicos como um todo. Deve-se ter em mente também que estas atividades econômicas perdem a “localidade” regional para assumirem a nacionalidade do País onde se situam. Temos então as mudanças de indústria calçadista do Vale do Sinos, para indústria calçadista brasileira e por extensão, também a indústria calçadista italiana, a chinesa e outras de igual modo identificadas.
    A partir desta consideração, passa-se também colocar que o Valor está migrando de um setor industrial nacional para outro e não mais de fábrica para fábrica.
    A condição mais relevante na Nova Economia é o foco das transações comerciais, identificado pela capacidade dos setores econômicos em gerar Valor para os seus mercados e mais especificamente para os seus clientes.
    A nova ordem econômica mundial, por seu dinamismo, influenciada pelos fatores já considerados, gerou nos últimos anos, profundas mudanças dos cenários tanto do lado dos fornecedores, como dos consumidores.
    Fornecedores de calçados, até agora ocupantes de posições de menor relevância, foram despertados para as suas potencialidades frente aos mercados que se dinamizaram, e assumiram posicionamentos de importantes fornecedores de calçados. É o caso da China e a Índia. Seguiram também nesta linha de comportamento os países do leste europeu, tradicionais fornecedores de calçados para a antiga União Soviética, como a Hungria – altamente competente e competitiva na fabricação de calçados -, República Tcheca – onde até hoje se situa uma das, senão a maior fábrica de calçados do mundo, a antiga Bata -, e a República Eslovaca . A queda das barreiras ideológicas também geraram novos fornecedores como o Vietnã.


  4. Algumas considerações de ordem estratégica merecem ser feitas quando se deseja conhecer mais profundamente os posicionamentos destes novos players.
    As atividades econômicas podem ser classificados, sob o ponto de vista da aplicação de mão de obra, da gestão de processos, do desenvolvimento tecnológico de processos, e do desenvolvimento tecnológico de novos produtos, em três grandes grupos:
    - Intensivas em Mão de Obra: que são aquelas em que a maior contribuição ou peso para a realização do Valor dos produtos e serviços está na preponderante aplicação de mão de obra. Uma de suas características é a baixa flexibilidade em atender às variações da demanda. Os lotes produzidos são de grande quantidade de itens, com poucas variações de tipos, modelos. Ao se identificarem pela sua inflexibilidade em atender variações de demandas, a sua capacidade de Agregação de Valor se processa basicamente pelo Baixo Custo;
    - Intensivas em Produtividade: são aquelas em que as tecnologias de gestão assumem um papel preponderante e essencial para a flexibilidade dos processos de geração dos produtos e serviços, em ambientes de Alta Produtividade. A Agregação de Valor resulta, da flexibilidade em atender as variações e as diversas naturezas das demandas; do atendimento de nichos de mercado; da incorporação de novas tecnologias de produtos. Agregação de Valor passa para um estágio mais elevado e de maior flexibilidade identificado pela Inovação do Valor. Esta estratégia de atuação , segue o paradigma da Nova Economia pois busca a aproximação e a integração do fornecedor com o Império do Consumidor.
    - Intensivas em Tecnologia: São aquelas em que o Valor Agregado é sustentado pelos avanços e a inovação tecnológica, principalmente da Tecnologia da Informação. Os custos relativos à sua geração – mão de obra por exemplo - são inexpressivos frente aos custos e investimentos em pesquisa tecnológica e nas tecnologias utilizadas na sua geração. A Agregação do Valor segue basicamente o processo de Inovação do Valor. Esta forma de atuação segue integralmente os fundamentos da Nova Economia, pois se fundamenta na alta conectividade com o Império do Consumidor.
    Tradicionalmente a fabricação do calçado em todo o mundo situa-se no primeiro grupo dos anteriormente referenciados, Intensivas em Mão de Obra, tendo como estratégia de geração de Valor o baixo custo, como já foi colocado. Esta é também a estratégia da maioria significativa das fábricas de calçados brasileiras como também da atividade calçadista mundial emergente nos países anteriormente relacionados, com especial destaque para a China, Índia pelos grandes volumes de produção colocados à disposição do mercado, a partir dos últimos anos.
    É de extrema importância nos determos no caso chinês e fazermos algumas considerações sobre o mesmo. Dada a disponibilidade de altos contingentes de mão de obra - aproximadamente 300 milhões de pessoas - os cenários identificam que este país, intensificará as suas ações de produzir calçados dentro do fundamento de atividade Intensiva em Mão de Obra, de baixo custo portanto. A medida que este estágio de sua estratégia for se consolidando, somando-se a este, a capacitação e melhoria de competências gerenciais em gestão de processos e o desenvolvimento de tecnologias de processos mais avançadas – o que já está acontecendo - as fábricas de calçados chinesas migrarão para fabricação de calçados sob o prisma de atividade Intensivas em Produtividade onde a oferta de Valor baseia-se na flexibilidade da manufatura e na a Inovação do Valor dos calçados pelo design, fashion e custos alinhados com a oferta de diferenciação. Porém, diante da astronômica disponibilidade de mão de obra, novos contigentes desta serão incorporadas às novas fábricas de calçados que surgirão, continuando a oferecer o calçados de Baixo Custo. A China está se propondo açambarcar estes dois mercados consumidores. Não é somente uma questão competitiva que está em jogo, mas sim, a necessidade imperiosa que este país tem de dar emprego às milhões de pessoas que precisam trabalhar e de uma ou outra forma prover o seu sustento. É importante ressaltar também que esta estratégia não se aplica somente à indústria calçadista, mas estende-se também à produção de outros bens de consumo.
    O Império do Consumidor ao manifestar suas necessidades e desejos, amplia as exigências aos seus fornecedores, a partir da conectividade e da instantaneidade dos fluxos de informação, tornando rapidamente o que é inovador em coisas comuns, acelerando o processo de comoditização.
    Diante deste cenário mundial para a indústria calçadista brasileira é que surge a proposta da Nova Fábrica de Calçados - NFC. Talvez a denominação não seja a mais adequada, pois que no nosso País, uma pujante atividade calçadista há mais de trinta anos fornece calçados para o mundo inteiro a partir de competências que lhe asseguraram uma posição de destaque nesta atividade.
    Como os cenários são dotados de uma dinâmica de rápidas mudanças, há a necessidade de se avançar continuamente na busca de condições mais privilegiadas no ambiente global e conectado do consumo de calçados.
    A indústria calçadista brasileira tem este lastro de potencialidades construídos ao longo destes anos que lhe asseguram condições ímpares, e excepcionais para continuar o processo de upgrade de sua eficácia empresarial para continuar por muito anos caminhar nesta trajetória vitoriosa de um dos maiores fornecedores de calçados mundiais.
    É com base nestas considerações que descreveremos nos próximos cinco capítulos, a Nova Fábrica de Calçados – NFC, como uma organização que desenvolve competências para atender vantajosamente, frente aos concorrentes mundiais, as demandas do Império do Consumidor de calçados, inserido na Nova Economia.

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